Simbolismo

CONTEXTO HISTÓRICO DO SIMBOLISMO
Simbolismo no Brasil enfrentou o clima hostil mantido pelos adeptos do Parnasianismo e produziu obras poéticas que, de certa forma, abriram caminho para a renovação que eclodiria com a Semana de Arte Moderna. Os simbolistas tiveram que lutar contra o prestígio do grupo realista-parnasianista que, além da tradição literária inabalável até então, somava a seu favor o fato de ter sido a geração que fundou a Academia Brasileira de Letras (1896). O ritmo novo, e os símbolos inesperados não encontraram pronto acolhimento no mundo poético objetivo, padronizado e solidificado nos moldes acadêmicos atuais. Didaticamente, considera-se o ano de 1893 como o marco inicial do Simbolismo no Brasil, ainda que antes daquela data se possam registrar várias manifestações poéticas ligadas à nova estética. Entre elas, destaca-se a publicação de Canções da decadência, de Medeiros de Albuquerque, em 1887.
Consideram-se obras introdutórias do Simbolismo no Brasil “Missal” (poemas em prosa) e “Broquéis” (versos), publicados em 1893; com as quais Cruz e Sousa renovou a poética em língua portuguesa (o vocabulário, os motivos temáticos, a musicalidade, o acento rítmico, a métrica inclusive), apresentando originalidade e um repertório amplo de recursos expressivos. Os temas da morte, do mistério, do conflito interior e da escravidão unem-se a uma constante preocupação formal para conferir à sua poesia uma qualidade diferenciada.
O simbolismo surgiu em um na época das descobertas científicas do século XIX. Houve profundas transformações na ciência, na sociedade, na filosofia, nas artes, na medicina.
A indiferença pregada pelos parnasianos foi contrariada por jovens poetas, como Baudelaire e Rimbaud, que tentavam penetrar a obscuridade da “alma” humana e representar seus estados. Uma nova onda de misticismo varreu a Europa e espalhou-se pelo mundo, ressuscitando antigas religiões e sociedades secretas. Recuperou-se o valor do símbolo, misterioso, sugestivo e assustador. Não é à toa que os poetas, ora se apegavam aos ritos e à mitologia católica, ora ao ocultismo.

CARACTERÍSTICAS GERAIS DO SIMBOLISMO
O Simbolismo manifestou uma concepção oposta as do racionalismo e à impassibilidade parnasiana, porém manteve de seus predecessores, o gosto por uma forma requintada. Por outro lado, quanto ao conteúdo, aproximou-se dos românticos pelo subjetivismo dos poemas.

Características básicas
Subjetivismo
O poeta simbolista vasculha sua “alma”, o “subconsciente”, na busca das áreas mais escuras do eu e das emoções. Pode-se afirmar que, o simbolista é influenciado pela psicanálise. O corpo passa a ser uma prisão da essência mais profunda, a alma, que o poeta tenta trazer à tona.

Irracionalismo
Opondo-se às explicações “fáceis” do racionalismo reinante, os simbolistas voltaram-se para a exploração do mundo desconhecido do interior humano, do caos, onde tudo é vago.

Musicalidade
Uma das características mais marcantes da escola e a técnica mais perseguida por seus discípulos. Exploram a aliteração (repetição de fonemas que sugerem um som sugerido pelas palavras) e a assonância (as mesmas vogais tônicas repetidas em palavras diferentes).

Misticismo
Os simbolistas apresentaram uma concepção mística da vida, recusando-se a acreditar num racionalismo simplista. Os poetas buscaram respostas mais complexas, se católicos, interessarem-se mais pela vida do além. Por essa razão, são inúmeros os vocábulos religiosos ou filosóficos presentes nos poemas.

Sensorialismo
Reconhecendo a força de apreensão do conjunto dos sentimentos humanos, o Simbolismo explorou imagens visuais, olfativas, táteis e auditivas.

O principal poeta do simbolismo é Cruz e Souza

CARACTERÍSTICAS GERAIS DO POETA
Conhecido como o “Cisne Negro” do nosso Simbolismo procurou na arte a transfiguração da dor de viver e de enfrentar os duros problemas decorrentes da discriminação racial e social. Filho de escravos alforriados, João da Cruz e Sousa nasceu em Nossa Senhora do Desterro (hoje Florianópolis), no ano de 1861. Em fevereiro de 1893, publica Missal (influenciado pela prosa de Baudelaire) e em agosto, Broquéis, dando início do Simbolismo no Brasil que se estende até 1922. Ele é um dos 4 melhores simbolistas da literatura mundial
A crítica costuma dividir a obra de Cruz e Sousa em duas fases bastante distintas: a inicial, em
que fala da dor e do sofrimento do homem negro. É marcada pela dor pessoal, a revolta que sente contra a vida miserável, sem as oportunidades sonhadas, o desprezo sofrido. Demonstra a revolta surda da raça oprimida pelo preconceito, a discriminação. Essa temática é a mais desenvolvida em Broquéis e Faróis. Em sua segunda fase, bem representada por Últimos Sonetos, o poeta passou a aceitar mais a sua dor, a fuga para um nirvana, onde não haveria as limitações do corpo, um cárcere das almas, em sua concepção. Nunca é demais lembrar-se que é forte nele, também, a temática sexual. Existe uma obsessão pelo branco, cor que aparece nas mais diversas metáforas e termos que lembram a cor. Há, ainda, as sinestesias, com que envolve o leitor no clima exposto pelo poema.

TERMOS RELIGIOSOS OU FILOSÓFICOS
LINGUAGEM VAGA, DE DIFÍCIL COMPREENSÃO.
INICIAIS MAIÚSCULAS EM SUBSTANTIVOS COMUNS, especialmente os abstratos.

 {Antífona}.
FARÓIS
Broquéis, Faróis e Últimos Sonetos.
Desses, apenas o primeiro foi publicado em vida, tendo os sido os outros dois publicados postumamente por Nestor Vítor, poeta e crítico paranaense, amigo de Cruz e Sousa.
BROQUÉIS
REFERÊNCIA A CORES, especialmente a cor branca, que virá representada por elementos da natureza em que ela aparece: Por exemplo, luar, flores, neblinas, cristais, etc.

Nesse livro, o poeta torna-se mais filosófico e intimista. Os temas tornam-se mais variados. Nota-se que está ocorrendo uma transformação no poeta: está mais triste, deprimido, usando os poemas como um desabafo, às vezes. Quanto aos aspectos formais, passa a fazer poemas mais longos, embora os sonetos também continuem. O vocabulário continua selecionado, difícil ao leitor comum em determinados momentos. A musicalidade é seu ponto alto. É como uma área musical que apresenta um tom, um andamento diferenciado daquele claro e frequente em Broquéis. A maturidade artística alcançada com Faróis é, na verdade, o desenvolvimento daquela tendência já existente em Broquéis. Nesta obra Cruz e Souza antecipa um pouco o que seria a Semana de 22.



ÚLTIMOS SONETOS
Cruz e Sousa adquire nesse livro uma postura mais mística e transcendental. Seu misticismo não é o apenas católico, mas revela antes uma ansiedade de seguir para uma nova dimensão, para um nirvana (Uma morada das almas, talvez, eterna e onde não haja dor, sofrimento e discriminação). Nesta fase final de sua produção, Cruz e Sousa universaliza seus temas, exprimindo o desejo de obter uma mais ampla compreensão da condição humana, principalmente pelo desprendimento material e aprimoramento espiritual. A vida material é considerada uma forma de restrição do espírito, que, com a morte, liberta-se e integra-se ao todo universal. Esse anseio transcendente é um traço fundamental das concepções de mundo dos simbolistas: isto significa que Cruz e Sousa, em sua obra, passa de uma fase inicial mais atenta aos aspectos formais do movimento para uma etapa mais autenticamente simbolista – pois os recursos formais, usados com mais sobriedade, correspondem a uma real necessidade expressiva e não a um mero desejo de fazer literatura de acordo com a “última moda”. Parece aceitar definitivamente a dor como uma forma de purgação, anseia pela morte, que vê como libertação do sofrimento. Voltam a predominar de forma quase absoluta os sonetos.

CÁRCERE
DAS ALMAS
Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves,
que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!

      Em todo o poema, o autor procurou destacar a limitação e a rigidez a que a alma humana está condenada. A opção pela forma soneto, uma forma rígida (catorze versos, distribuídos em dois quartetos e dois tercetos) realça a essência desta temática de prisão, limitação. O resultado da combinação de versos tão variados cria um ritmo novo, diferente dos anteriores. Além das rimas finais (o esquema rítmico é abba, abba, ccd, eed) o poema apresenta rimas internas, assonância e aliterações. Tais recursos dão musicalidade (melodia própria) ao texto.
            Na 1.ª estrofe, a interjeição “Ah!” revela um lamento do eu lírico diante da constatação que vem logo a seguir: “Toda a alma num cárcere anda presa”. A condição humana é angustiante, na visão revelada por estas palavras: o cárcere das almas é o próprio corpo. Soluçando entre as trevas, a alma, de sua “prisão” vê as imensidades, mares, estrelas, tardes, natureza, isto é, o mundo em suas manifestações de infinito e plenitude, o mundo em sua totalidade (notamos que estes elementos se opõem nitidamente – antítese).
            Na 2.ª estrofe, o eu lírico, através da oração adverbial temporal, expressa que através do sonho a alma sai desta prisão e se veste de grandeza. É através desta visão onírica que os “verdadeiros sentidos” podem ser encontrados em plenitude, na plenitude das ideias puras, ou seja, entrar em contato com o espiritual ou não racional. É um plano abstrato, imaterial, intelectivo, traduzindo uma ânsia de captar o mundo em sua potencialidade maior: a alma do seu cárcere contempla as ideias eternas. O efeito da antítese nesta estrofe reforça a oposição, o conflito entre o material e o espiritual: Alma entre grilhões x grandezas do sonho, sonhar imortalidades. É o desejo de transcendência, de superação desse dualismo.
            A 3.ª estrofe inicia-se por um chamamento, uma invocação: “Ó almas presas”. é um lamento, uma trágica observação diante da condição material da vida humana, desfavorável para que as almas se realizem plenamente. São muito importantes para o sentido do poema os adjetivos (presas, mudas, fechadas) empregados neste terceto, referentes ao substantivo alma. Eles indicam aprisionamento, incomunicabilidade e, ao mesmo tempo, revelam a ânsia, o desejo de libertação. Outra particularidade a ser observada é a respeito do adjetivo funéreo. Ele sugere a ideia de que tal situação não corresponde à verdadeira Vida. Viver, assim, é estar no calabouço da Dor, com maiúscula alegorizante: a dor maior, a dor de viver. É a visão do eu lírico sobre a vida terrena (a vida é apenas angústia e sofrimento).
            Na 4.ª estrofe, marcada pela aliteração (repetição de sons consonantais) presente no verso inicial, o eu lírico procura valores espirituais como solução que possibilite à alma o encontro com a libertação da triste condição material. Neste contexto, percebemos, com angústia, um questionamento direcionado para o interior do próprio ser( o “eu” é o centro do universo nas profundezas do inconsciente). As próprias palavras (“chaveiro do Céu”) permitem-nos admitir uma visão do homem à luz da transcendência religiosa( e neste sentido, só a morte traz a possibilidade de contemplar a plenitude das coisas, só ela permite igualarem-se as coisas em grandeza, só a morte traz libertação). As “portas do Mistério”, simbolicamente, representam as dúvidas com que cada um de nós se depara pela ânsia metafísica de conhecer além, de encontrar respostas às questões existenciais básicas
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**Esse é um trabalho que eu fiz enquanto ainda estava na escola, se quiserem fazer o download do trabalho inteiro, com mais informações, poemas analisados... clique aqui e depois apertem Ctrl + S

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Edson